Brindando a Grécia em russo3 min. de leitura

O dia em que conheci Antenas de graça em uma conexão de quase um dia

Tatiane Matheus

— “Za Zdorovue!”

— Sorry?!?, eu perguntei ao homem bonachão na poltrona ao lado da minha no avião. 

— “Za Zdorovue!”, ele repetiu agora levantando a cerveja que bebia. 

Eu agradeci e continuei comendo o meu jantar. Aí, quando fui beber um gole de vinho novamente, escuto: — “Za Zdorovue!”. — “Thanks!”. —“Za Zdorovue!”. —“?!?” — Na Rússia, brindamos toda a vez que bebemos, foi a explicação que ele me deu.  Sorri e tratei de beber logo o vinho, pois já começara a ser engraçado, mas quase incomodando, ao escutar tanto “Za Zdorovue!” todas as vezes que eu levantava a taça.

Mas, sim, eu tinha muito o que brindar aos deuses gregos pelo presente recebido. Estava voando de Tel Aviv para Lisboa, pela Aegean Airlines, e teria uma escala de mais de 23 horas em Atenas. Além do voo ser low cost, ele estava em promoção. Comprei desconfiada. Só que foi uma grata surpresa. Diferente dos voos low cost, foi servido um delicioso jantar com direito a uma garrafinha de vinho grego que Baco-Dionísio ficaria orgulhoso. Acho que o voo foi barato por causa da escala longa e por chegar de madrugada no Aeroporto Elefthérios Venizélos. 

Quando cheguei estava bem cansada. Fui ao banheiro: lavei o rosto, escovei os dentes, penteei o cabelo e retoquei a maquiagem. Ué, cada um com seus rituais de viagem, né? Putz, foi só depois que coloquei o rímel que me dei conta que não precisava, afinal, era o dia de fazer o “Tom Hanks”, no filme O Terminal, e dormi no aeroporto. Sim, eu era a primeira vez que eu ia dormir no aeroporto.

Quando ainda estava planejando esta viagem (e decidindo se ia ou não para um hostel e o que ia fazer um dia por lá), descobri um website MA-RA-VI-LHO-SO, o Sleeping Airports,  com dicas de aeroportos do mundo todo e para dormir neles também. 

Passei um pouco pelo aeroporto em busca de um lugar. Como a bateria do celular estava acabando, o fator decisório foi a tomada. Celular na tomada e colocado no bolso da mochila, que se tornou um travesseiro. Máscara de dormir e almofada de pescoço (para a minha hérnia na cervical não reclamar), mala de apoio ao pés e desta vez o deus grego a invocar seria Morfeu, o deus do sono. Ah, coloquei um tampão nos ouvidos.

Não foi o melhor sono do mundo, mas deu para descansar. Ao redor havia outras pessoas dormindo. Inclusive no chão. Mas, fiquei receosa. Quando despertei parecia um guaxinim ou um panda com as olheiras acentuadas com o rímel. Nada como seguir seu ritual de chegadas no aeroporto para consertar o rosto. Deixei a mala no porta-volumes do aeroporto e fui para a estação de trem. Grécia, here we go!