Viajando, enxergando preconceitos e perdê-los?4 min. de leitura

Tatiane Matheus

Podemos aproveitar a experiência das viagens para conhecermos e ressignificarmos nossas “verdades” e “percepções da realidade”

Estereótipo é a chapa (clichê) para fazer estereotipia nas artes gráficas. É uma forma de composição tipográfica obtida por metal líquido moldado. Mas, para tentar “entender o mundo” e “não ter trabalho” muitos colocam as pessoas e lugares nas caixinhas. Não é à toa que a mesma palavra serve para o significado de uma imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. São usados principalmente para definir e limitar pessoas ou grupo de pessoas na sociedade. Quem nunca escutou que todos os cidadãos de tal país são assim mesmo ou que determinado lugar é de tal jeito.

Em muitas viagens que já fiz tive problemas, encontrei pessoas mal-humoradas e até grosseiras, como também muita gente legal. Definir um local por elas acredito não ser o caminho. Experiências são experiências e em um mesmo lugar podemos tê-las de formas diferentes. Lembro-me que tive uma ótima impressão dos londrinos. Sempre tinha alguém disposto a me dar informação, ajudar com a minha enorme bagagem para subir as escadas das estações de metrô. Na mesma viagem, uma brasileira me pediu informação no metrô e desabafou que está odiando o lugar pelo fato que ninguém dava informação e só encontrava gente grossa.

“Viajar é descobrir que todo mundo está errado sobre os outros países”, Aldous Huxley

Em Buenos Aires, um motorista de táxi ficou irritado quando eu falei o endereço de onde eu ia e que poderia ir por tal avenida. Disse que era muito perto e não levaria. Quando veio o próximo taxista, antes de entrar no carro, já fui logo avisando para onde eu ia e que sabia onde ficava (na época não existe Waze). Simpático, ele disse que tudo bem. Criticou o colega de profissão que queria dar uma volta “com a turista” para que eu pagasse mais caro. Ainda deu um desconto para eu não voltar com má impressão do país dele.

Sim, encontrei muitos garçons mal educados em Paris e gente “grossa” do mesmo modo que lembro de um francês simpaticíssimo no Metrô que falava sem problema nenhum em inglês e até criticou o jeito de ser de alguns conterrâneos ou o senhor na rua que falou numa mistura de espanhol e francês já que percebeu que eu me atrapalhava na tentativa de falar no idioma dos gauleses enquanto saia palavras na língua do Cervantes.

Em Tel Aviv, enquanto atravessava a rua e o semáforo ficou amarelo para mim, um motorista fez menção de jogar o carro para cima de mim. No mesmo dia, uma moça me ajudou no supermercado a encontrar uma determinado grão de café que minha hostess do Airbnb me pediu para comprar, mas não estava confundindo as letras em hebraico. Em Roma escutei muita “gracinha” (que acho sem graça) de italianos na rua, mas também conheci um italiano no meio de um sítio arqueológico que foi super solícito sem nenhuma segunda intenção e ainda comentou sobre o hábitos de alguns conterrâneos e que ele enxergar um certo machismo, o qual censurava.

A lista é longa e do mesmo tamanho das vezes que escutei que “era uma brasileira diferente” de gente que esperava que eu replicasse algum dos estereótipos da “mulher brasileira” na ‘“gringolândia”. Recentemente, fui ciceronear uma garota croata que viajava pelo Brasil. Conversávamos exatamente disto: estereótipos e preconceitos. Inclusive, como viajar nos faz perder as nossas ideias pré-concebidas. Não sei quanto a você, mas toda a vez que encontro um preconceito que eu tenho, fico bem chateada comigo. Afinal, ninguém acha que é preconceituoso. A realidade é que todos nós somos com algo ou alguma coisa. Preconceito é qualquer opinião ou sentimento sem exame crítico. Se você fala que não gosta de determinado alimento, mas nunca o provou. Desculpe-me pela sinceridade, mas você está sendo preconceituoso, mesmo que seja em relação a uma comida. Mas, ao descobri-lo, a gente questiona de onde veio aquela ideia concebida e temos a oportunidade de mudá-la.

Viajar nos traz isso, a oportunidade de ver as coisas sob outra perspectiva. A experiência poderá ser boa ou ruim em determinados lugares e países. Poderá querer até mesmo nunca mais voltar e determinado lugar. Você vai experimentar situações culturais que pode estar de acordo ou não. Até mesmo coisas ruins, mas alimentar um sentimento hostil, ao assumir uma generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio, você estará sendo intolerante. Busque se conscientizar de seus preconceitos para ver o local que está de forma genuína, senão vai procurar o tempo todo fatos que corroborem com eles. E, não se preocupe ao se dar conta que está sendo preconceituoso com algo, pois é nesse momento que você está perdendo-o. Consciência é tudo.